Obama <em>vs</em> Clinton

John Catalinotto
A vitória surpreendentemente forte de Barack Obama no caucasiano Iowa e o segundo lugar próximo de Hillary Rodham Clinton nas primárias de New Hampshire, transformou a competição para a nomeação pelo Partido Democrático numa apertada disputa entre os dois. O facto de Obama ter conseguido tão bons resultados em pequenos estados com 95 por cento de votantes brancos e sem grandes centros urbanos aumenta o seu potencial.
Obama ganhou no Iowa com 38% e ficou em segundo lugar no New Hampshire com 36%. Embora estes resultados não possam ser vistos como representativos do resto do país, indicam que pela primeira vez há um largo número de jovens brancos apoiantes entusiastas de Obama. Isso significa que dezenas de milhões de pessoas que não acreditavam ser possível eleger um presidente negro nos racistas EUA pensam agora que Obama pode ser o primeiro.
Nada disto altera o carácter de classe em que assentam as eleições norte-americanas. Que as primárias ocorram em dia de trabalho, que cada estado tenha diferentes métodos de selecção, que menos de metade dos possíveis eleitores participe, que muitos imigrantes e afro-americanos não possam votar, tudo faz com que o processo assente na exclusão dos pobres e dos trabalhadores. Mais importante ainda, os que conseguem angariar mais fundos são normalmente os vencedores. Isto transforma os candidatos em agentes assalariados dos doadores da classe dominante. A disputa presidencial continua firmemente nas mãos da classe dirigente e os seus políticos em dois grandes partidos capitalistas, os republicanos e os democratas.
Os candidatos que lideram este ano os dois partidos têm sido ao longo das suas carreiras políticas firmes defensores dos interesses do imperialismo norte-americano e do grande capital. Vejamos quem são os seus principais conselheiros. No respeitante a Clinton, os principais conselheiros em política externa são Madeleine Albright e Richard Holbrooke, arquitectos da guerra da Jugoslávia. O de Obama é o especialista da guerra fria Zbigniew Brzezinski. Mesmo que um presidente particularmente sincero queira mudar estes interesses, ele ou ela teriam de confrontar o Pentágono, a CIA, o FBI, os tribunais e a polícia, o dinheiro da Wall Street e os ataques dos média corporativos.
A antiga congressista Cynthia Mckinney, uma afro-americana na disputa presidencial através de um «terceiro partido» independente, criticou a equipa e o programa de Obama. Mckinney e outros intimamente ligados à luta dos negros fazem notar que Obama, ao minimizar as profundas diferenças entre negros e brancos nos EUA, cria a ilusão de que, se ele for eleito, as diferenças raciais desaparecerão. Isto não ajuda nada, por exemplo, as pessoas desalojadas de Nova Orleães pelo furacão Katrina.
Ninguém deve esperar alterações profundas nas políticas dos EUA através desta eleição. Tendo isto presente, resta saber qual a lição a tirar destas votações.
A primeira lição vem da grande viragem no Iowa para os democratas, o dobro dos republicanos, quase o dobro dos resultados dos democratas em 2004, incluindo muitos jovens e pessoas sem partido. Isto indica uma intensa rejeição da presidência Bush e um forte desejo de mudança em relação à postura agressiva e arrogante de Bush. Uma vez que Clinton e Obama se transformaram nos maiores angariadores de fundos, conseguindo ainda mais do que os republicanos, isso indica também uma viragem da classe dirigente em direcção aos democratas.
Os que vêem Obama como um agente de mudança estão a olhar para além do seu programa para a imagem que ele projecta. Nas eleições norte-americanas o sentimento pode ser mais importante do que o conteúdo. O senador democrata John Edwards, que segue em terceiro lugar, tem tido um discurso de campanha mais pró-trabalho, pró-saúde e anti-guerra do que Obama e Clinton. O programa de política interna de Clinton é também ligeiramente mais progressista do que o de Obama, embora entre muitos dos activistas contra a guerra ela seja identificada como uma apoiante da guerra no Iraque. O sentimento dos eleitores em relação aos candidatos não está necessariamente ligado ao seu discurso ou promessas escritas, que de resto são frequentemente desrespeitadas.
Os observadores estrangeiros podem subestimar o impacto das questões raciais e de género nos EUA. Pela primeira vez um afro-americano ou uma mulher pode ser eleito presidente, e eles estão em competição. Daqui retiramos uma outra lição, plena de contradições.
Uma campanha vencedora de Obama ateará os ânimos dos racistas mais violentos. Os republicanos já fizeram planos para manipular os piores sentimentos sexistas e machistas contra Clinton, que tem estado desde há 15 anos sob observação pública, e usariam certamente o racismo contra Obama. Isto pode dividir a população e transformar as eleições numa arena de combate sobre o racismo e/ou o sexismo.


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